Não fazia ideia das implicações no ato de envelhecer para uma mulher. Até que um dia ouvi a seguinte frase: “Você está ótima para a sua idade.” Quando ouvi essa frase pela primeira vez, algo dentro de mim se contorceu. O gosto amargo que preencheu minha boca contrastava com o sorriso morno que forçava ao responder um “obrigada” sem muita verdade. Aquilo ficou na minha cabeça, martelando…Porque aquilo não era exatamente um elogio, mas sim uma sentença velada, um lembrete de que, para a sociedade, o tempo é cruel com as mulheres.
De repente, a frase parecia encapsular todas as expectativas e pressões que carregamos ao longo dos anos, como se a idade fosse uma vergonha que deve ser escondida, e não uma conquista a ser celebrada. Foi nesse momento que comecei a me perguntar: por que o envelhecimento feminino carrega tanto peso? Por que a sociedade impõe padrões e até mesmo tabus que nos fazem sentir invisíveis ou inconvenientes à medida que envelhecemos?
Foi um turbilhão de pensamentos. O envelhecer não é apenas uma transformação física; é uma revolução interna. Somos desafiados a aceitar cada linha que o tempo impiedosamente despeja em nosso rosto, cada mudança no corpo, enquanto lutamos contra os estigmas que nos são impostos. Envelhecer, ao contrário do que nos fazem acreditar, deveria ser um processo libertador. No entanto, muitas vezes, somos condicionados a ver o passar dos anos como um adversário, algo a ser combatido. E a cobrança não vem apenas de fora; internalizamos esses padrões, que, de forma sutil, começam a minar nossa autoestima.
Envelhecer e o valor da mulher na sociedade
O envelhecimento feminino carrega um peso cultural e emocional que nos é imposta desde cedo. Somos ensinados a valorizar a juventude e a aparência, como se nossa relevância e valor estivessem diretamente ligados a isso. O mundo nos empurra para uma corrida contra o tempo, onde rugas, fios de cabelo brancos e mudanças no corpo são vistos como inimigos a serem combatidos, e não como sinais de vida e experiência. É curioso notar que, enquanto a sociedade permite aos homens envelhecerem, às mulheres, resta a pressão de permanência “jovens” o máximo possível.
Esse valor faz parte da estrutura patriarcal a qual vivemos. Desde os princípios, o valor da mulher se mediu pela sua beleza e juventude. Houve um tempo em que uma mulher possuía dote, e os casamentos aconteciam o quanto antes, para que as mesmas pudessem ter muitos filhos e cuidassem da casa e do marido. O quanto antes, quer dizer que muitos casamentos aconteciam com mulheres ainda meninas, com idades entre 11 e 14 anos, e muitas vezes com homens já em idade avançada, viúvos.
Fato verídico: um tempo atrás, me enamorei de um homem 5 anos mais velho. Um dia, encontramos um amigo dele em um restaurante, e papo vai, papo vem, esse cidadão solta a seguinte frase: “- Essa mulher é muito bonita e gente boa pra estar contigo… mas achei que te veria com uma mulher mais jovem que tua ex”. Ainda não consegui digerir essa frase, não entendi se queria me elogiar ou critica-lo por estar com uma mulher na mesma faixa de idade da ex mulher do amigo.
Mundo, me deixe envelhecer em paz!
Mas o que muitas mulheres descobrem com o passar do tempo, é que envelhecer pode ser sim extremamente libertador. Ao longo dos anos, muitas começam a se desprender das pressões externas, a valorizar o que realmente importa e, finalmente, deixam de buscar validação no olhar do outro. A maturidade traz uma clareza poderosa sobre quem somos, o que desejamos e, acima de tudo, o que não estamos mais dispostas a aceitar. Aos 20 ou 30 anos, as pessoas muitas vezes estão em busca de identidade própria, o seu lugar no mundo. Mas, depois dos 40, fica fácil entender que o verdadeiro poder está em nos aceitar como somos, sem medo ou culpa.
É claro que essa fase também traz desafios. Não é fácil lidar com a invisibilidade que tantas mulheres sentem ao envelhecer . No mercado de trabalho, por exemplo, a experiência de uma mulher madura muitas vezes é subvalorizada, enquanto a juventude e a energia de alguém mais jovem são exaltadas. Nas relações sociais e afetivas, a expectativa é que continuemos jovens, como se envelhecer fosse sinônimo de perder valor. Isso se reflete nos padrões de beleza, nos papéis que nos são oferecidos e até mesmo nas oportunidades que nos são negadas.
O corpo muda, e isso pode impactar diretamente na autoestima. Não são apenas as rugas ou os quilos extras; o metabolismo desacelera, a força diminui, questões hormonais podem afetar desde o humor até o sono e a libido. É como se o corpo estivesse passando por uma segunda adolescência, só que sem o glamour da juventude. Envelhecer é um processo físico, emocional e até espiritual, que muitas vezes nos pega de surpresa.
Há beleza na maturidade!
No entanto, é nessa transformação que muitos encontram um novo tipo de poder. Ao invés de lutar contra o tempo, alguns escolhem abraçar sua história, cada linha no rosto contando experiências vívidas, cada marca no corpo simbolizando batalhas vencidas. Há uma beleza única nisso, uma beleza que só quem viveu intensamente pode carregar. Envelhecer com graça e sabedoria não significa esconder os sinais do tempo, mas sim considerar o valor que cada um deles carrega.
Revolucionar a forma como se vive o envelhecimento é, por si só, um ato de resistência. Ao invés de tentar se encaixar nos padrões que são impostos, experimente olhar como realmente somos e merecemos: mulheres fortes, em constante evolução, que não se definem pela idade, mas sim pela sabedoria que acumulamos, pela coragem que adquirimos e pelos afetos que conquistamos ao longo da vida. Tome a liberdade de ser quem quiser ser, sem pedir permissão a ninguém. Envelhecer não é perder valor; é ganhar uma nova perspectiva, um novo olhar sobre a vida. E isso é algo que só quem viveu plenamente e chegou até aqui (aos 40) pode compreender.
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