Por muito tempo, uma mulher se permitir ficar grisalha, era visto como desleixo ou falta de amor próprio. No entanto, durante a pandemia de Covid, esse cenário se modificou e muitas mulheres aderiram aos fios naturalmente brancos. Forçadas a ficar trancadas em casa, tivemos que aprender a conviver com uma versão mais natural de nós mesmas. Nesse contexto, as redes sociais tiveram um papel fundamental, pois foram palco para inúmeras transições capilares: abandonar tinta, deixar de alisar e assumir cachos…foi mesmo uma grande revolução para as mulheres!
Mesmo num momento de revisão de vida como foi a pandemia, a decisão de ficar grisalha foi e ainda é um ato de coragem. Permitir que os cabelos fiquem brancos, é assumir que a idade avançada chegou, e ficar velha, ainda é um tema sensível a muitas mulheres. Ademais, a sociedade é formada por pensamentos machistas que reforçam o comportamento etarista sobre o tema. Revelando que, para uma mulher ter valor, ela precisa ser jovem e atraente, e infelizmente nesse contexto, o cabelo grisalho não cabe.
Aceitando ser grisalha
A aceitação dos cabelos grisalhos sempre foi um pensamento mais comum entre os homens, especialmente na meia-idade. Onde paira uma ideia que homens desfrutam de uma “permissão” para envelhecer, pois a sociedade vê o envelhecimento dos homens como um símbolo de charme, maturidade e experiência de vida.
Enquanto que para as mulheres, o cabelo grisalho ainda carrega um estigma, associado ao envelhecimento e, de forma equivocada, ao desleixo. No entanto, com o fortalecimento dos debates atuais que desafiam os padrões de beleza tradicionais – que só valorizam mulheres altas, magras, brancas, de cabelo liso, com corpos “perfeitos” e aparência jovem – há cada vez mais mulheres que decidem abraçar seus cabelos grisalhos.
Nesse contexto que o movimento conhecido como Revolução Grisalha, surgiu como uma forma de resistência aos padrões sociais impostos. Ele representa a reconstrução e ressignificação da imagem feminina. Portanto, assumir os cabelos grisalhos é um ato libertador, uma ruptura com as normas ditadas pela sociedade, permitindo que essas mulheres se vejam como poderosas e autênticas, nos seus próprios termos e limites. É um processo transformador que celebra a liberdade e a autossuficiência.
A Tomada de consciência
Contudo, já a algum tempo que se observa em vários lugares do mundo, esse movimento em direção à liberdade de expressão dos corpos femininos como um todo. As redes sociais já vinham expondo essa tendência pautada em questões políticas, sociais, culturais e de mulheres cansadas de estarem presas a um padrão imposto.
Em 2006 vimos a indústria cinematográfica fazer uma pequena participação e contribuição nesse movimento. Ele ganhou visibilidade com o filme O Diabo Veste Prada. A protagonista Meryl Streep, interpreta a editora de moda Miranda Priestly, apresentada como um ícone fashion, símbolo de charme e elegância, foi retratada com os cabelos totalmente brancos.
Enquanto que no Brasil, várias figuras públicas também se conectaram com o movimento, adotando publicamente os cabelos naturalmente embranquecidos: Rita Lee, Sandra Annenberg, Glória Pires, Cássia Kiss, Fernanda Montenegro e Vera Holtz são algumas delas.
Cabelos como elemento transgressor
O cabelo e o corpo são repletos de símbolos, são expressões da adequação (ou não) aos padrões de beleza de uma determinada sociedade. Através do que usamos, ou de como usamos, somos reconhecidas politicamente, socialmente, financeiramente e até mesmo psicologicamente, expondo muitas vezes, nosso estado de espirito.
Deste modo, os cabelos grisalhos seguem a mesma tendência de transformação e representam uma mudança na forma de enxergar as diversas expressões de beleza. Novas histórias e atitudes vêm mostrando o valor de conviver com o diferente e a importância do poder de decisão sobre o próprio corpo. Pautando através do discurso da autenticidade, a liberdade de ser fora dos padrões e as escolhas pessoais, sem rótulos, abrem espaço para novas reflexões e formas de se posicionar.
Sustentando a decisão de ser grisalha
A verdade é que não é fácil tomar muito menos, manter essa decisão. Precisa estar preparada para os olhares de reprovação, comentários maldosos, perguntas indiscretas e conselhos para abandonar o processo.
Ainda não me sinto preparada para essa transição, ainda não me vejo fazendo isso. Atualmente encontro-me em transição para retomar meus cachos (falo sobre esse assunto nesse Post). Essa transição já está sendo pesada pra mim, portanto decidi que será uma coisa de cada vez!
Contudo, mesmo sem fazer parte ainda da revolução grisalha, sei o quanto esse processo é lento e o quanto que pode causar uma certa ansiedade. Admiro as mulheres que estão nesse processo, pois ainda requer coragem para tal. Porém, acredito que essa não é uma pauta a ser politizada, e sim normalizada, sendo este processo natural tanto para os homens quanto para as mulheres. Ademais, mesmo não aderindo ao processo de branqueamento dos fios, o que me motivou a escrever foi evidenciar algo óbvio, não tingir os fios também é uma opção!
Para manter-se firme no processo, sua autoestima precisa estar forte e elevada. A decisão é sua e se foi tomada de forma consciente, só vai! Entenda que se você não gostar, está tudo bem voltar atrás e retomar a cor original dos seus cabelos. O importante é você se reconhecer ao olhar no espelho e principalmente: amar o que vê.