A manipulação, comercialização, propaganda e uso de hormônios implantáveis manipulados, popularmente conhecidos como ‘chip da beleza’ foi proibido pela ANVISA. Segundo a agência, a medida refere-se aos implantes hormonais feitos em farmácias de manipulação. Essa decisão foi tomada após denúncias de entidades médicas que relataram um aumento no número de pacientes com complicações graves após o uso desses implantes hormonais para fins estéticos. Ocorre que, estes dispositivos contêm substâncias hormonais não aprovadas para essa finalidade, como a gestrinona, testosterona e a oxandrolona.
Primeiramente é preciso entender que o chip da beleza foi proibido pois, não possuem bula e nem comprovações científicas que indiquem a sua eficácia. Uma vez que não existe regulamentação da manipulação em farmácias de manipulação nem registro na Anvisa. Porém, a medida não afeta os implantes hormonais devidamente registrados pela Agência. Para consultar os medicamentos que são registrados, acesse aqui.
Ademais, a prescrição de dispositivos e medicamentos sem comprovação científica e movida por interesses comerciais, compromete a ética médica e prejudica a imagem dos médicos diante da sociedade. Essa prática desvirtua o juramento de priorizar o bem-estar do paciente, expondo-o a riscos desnecessários e colocando o ganho financeiro acima da segurança e da integridade do tratamento. Em um contexto de constantes inovações, a responsabilidade ética de seguir apenas o que é comprovado cientificamente é fundamental para manter a credibilidade da medicina e a relação de confiança entre médico e paciente.
O que é o chip da beleza e como funciona
Constantemente divulgados nas redes sociais por influenciadores digitais, esses dispositivos ficaram famosos devido a sua composição, que provocam um efeito anabolizante. Tendo promessas variadas, que vão desde redução da gordura corporal, aumento da libido, ganho de massa muscular e até alívio dos sintomas da menopausa. No entanto, como esses produtos são manipulados, o seu manuseio não tem regulamentação. Portanto, não contam com bula ou informações adequadas sobre farmacocinética, eficácia ou segurança como os medicamentos comuns registrados no país.
O “Chip da beleza” é um implante hormonal subdérmico bioabsorvível, também chamado de pallet. Traz uma combinação de hormônios esteroides manipulados (a composição exata varia), e foi desenvolvido para o tratamento da endometriose, uma vez que é capaz de aliviar os sintomas e promover a interrupção do ciclo menstrual. Trata-se de implantes subcutâneos, feitos de silicone, do tamanho de um palito de fósforo. São inseridos por baixo da pele do abdômen ou do glúteo, após anestesia local, e vão liberando os hormônios lentamente no organismo. Esses implantes contam com paredes porosas para que os hormônios continuem a se espalhar continuamente. Essa movimentação pode ser de 5 meses até 3 anos, dependendo da composição de hormônios da cápsula.
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Histórico do uso do chip da beleza no Brasil
A princípio, esses implantes eram utilizados em tratamentos ginecológicos. Por isso, nos anos 2000, o chip era um dispositivo autorizado e utilizado para fins terapêuticos, com acompanhamento. Dessa maneira, esses implantes eram prescritos por médicos para ajudar no tratamento de doenças como a endometriose, reposição hormonal durante a menopausa, e outras condições hormonais.
Com o tempo, as pacientes notaram, que, além dos benefícios médicos, haviam também benefícios estéticos associados ao uso do chip, como perda de peso, redução de celulite, aumento de massa muscular, aumento da libido e outros. Dessa forma, mesmo sem comprovações científicas, o implante se popularizou, começou a ser apelidado de “chip da beleza” e passou a ser usado entre celebridades, influenciadores e figuras públicas do Brasil, principalmente no início de 2020.
Efeitos colaterais
Parece ser a 8º maravilha do mundo, contudo, não se engane! O uso prolongado de hormônios androgênicos acarreta muitos riscos para a saúde, inclusive alterações irreversíveis no sistema cardíaco e hepático. Ademais, os médicos alertam que, não há dose segura para o uso de hormônios com fins estéticos ou de performance. Portanto, efeitos colaterais dos implantes superam quaisquer benefícios que “influenciadores” vendem nas redes sociais. A Seguir, os efeitos colaterais relacionados com o uso sem indicação desses implantes:
- Aumento de pelos no corpo e rosto;
- Queda de cabelo;
- Aumento da acne, devido à maior oleosidade da pele;
- Aumento dos níveis de colesterol;
- Sangramento fora do período menstrual;
- Inchaço;
- Aumento do clitóris;
- Alteração da voz;
- Infertilidade, disfunção erétil e diminuição da libido;
- Alterações cardíacas;
- Alterações hepáticas como insuficiência aguda e câncer;
- AVC acidente vascular cerebral
- Resistência a insulina
- Tendência para engordar e dificuldade para emagrecer
- Alterações na pressão arterial;
- Trombose;
- Transtornos mentais e de comportamento, incluindo depressão e dependência;
Observatório do uso inadequado de hormônio
Recentemente, uma plataforma foi desenvolvida para monitorar os efeitos colaterais e o uso indiscriminado de hormônios, chamada VIGICOM – Hormônios. Todavia, essa iniciativa foi encabeçada pela A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO) e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Essa ferramenta visa não só gerar dados que possam ser utilizados para aprimorar a legislação, a fiscalização e a regulamentação sobre o uso de hormônios no Brasil, como também serve para alertar a população sobre efeitos adversos do mau uso de hormônios.
Somente nos dois primeiros meses, foram registrados na plataforma mais de 200 casos de efeitos colaterais relacionados ao uso inadequado de hormônios, quase 50% associados ao “chip da beleza”. As principais complicações apontadas foram problemas cardiovasculares como acidente vascular cerebral (AVC), hipertensão e arritmia. Além disso, foram registrados casos de internações em UTI e até mesmo óbitos.
O VigiMed é o sistema disponibilizado pela Anvisa para que cidadãos, profissionais de saúde, detentores de registro de medicamentos e patrocinadores de estudos possam reportar suspeitas de eventos adversos relacionados a medicamentos e vacinas. Juntamente com o VIGICOM, atuam como banco de dados para registros da utilização desses hormônios. Aqueles que estão enfrentando efeitos colaterais relacionados aos implantes, devem fazer a notificação pelo sistema VigiMed.
Alternativas seguras e saudáveis para fins estéticos
Para evitar o uso de hormônios esteroides para fins estéticos, existem alternativas seguras e geram resultados. Dessa forma, o tratamento específico será adequado para a individualidade de cada pessoa. Por isso, é sempre importante buscar um profissional para lhe orientar com mais precisão. A verdade é que não existe fórmula mágica! Se você deseja ter um corpo bonito ou até mesmo aliviar os sintomas da menopausa, você precisa investir em atividade física e uma dieta equilibrada. Você perceberá que seus ganhos irão além do estético, beneficiando a sua saúde mental, sua disposição e sua imunidade.
Só tenta, depois vem me contar!